25 de set. de 2008

Tags:

PARTE VIII: A Paixão na Perspectiva da Felicidade

A paixão pode ultrapassar barreiras sociais, diferenças de formação, idades e gêneros. A paixão completamente correspondida causa grandiosa felicidade e satisfação ao apaixonado, pelo contrário qualquer dificuldade para atingir essa plenitude pode trazer grande tristeza, pois o apaixonado só se vê feliz ao conseguir o objeto de sua paixão (Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.)
Por Neilton Lima*
*Professor, pedagogo e pós-graduando em psicopedagogia.

Imagine alguém que acaba de se apaixonar. É possível que essa pessoa passe a viver um momento de extrema felicidade. Pelo menos se essa paixão for equilibrada, correspondida ou enquanto ela durar. Como a paixão é passageira, ela não significa necessariamente felicidade segura e permanente no amor. A paixão tem dois vieses: é acompanhada de prazer ou de sofrimento.
Aristóteles entende a paixão como um elemento intrínseco ao ser humano que não deve ser nem extirpado nem condenado, mas dominado e nunca reprimido. O homem não escolhe suas paixões, por isso não é responsável por elas, mas sim pela influência delas nas suas ações. Assim, o homem virtuoso é, nesta perspectiva, aquele que aprimora a sua conduta para saber utilizar, nos seus atos, a medida exata de paixão. Ou seja, a paixão dá estilo e unidade às nossas condutas e comportamentos, então nem pensar na justificativa de ações desequilibradas como arranhar a moto do namorado ou bater na cara da namorada porque “sinto por você uma forte paixão”. A paixão não é algo que nos leva a praticar uma ação ruim malgrado nossa vontade: um "crime passional". Todo adulto normal deve ser responsável por suas paixões e arcar com as conseqüências de seu mau.
O mestre diz que a paixão deve estar a serviço do logos, do conhecimento, da razão. O homem virtuoso é, então, aquele que age em harmonia com suas paixões; que alcança o equilíbrio logos/paixão. Em suma: Aristóteles compreende a paixão como "uma tendência implantada na natureza humana, mas eminentemente suscetível a ser educada”.
O tipo de paixão que estamos falando é a que se relaciona com o sentimento ou desejo amoroso. É um sentimento de desejar, querer, a todo custo o calor do corpo de outro ser. Fiz essa ressalva porque para Aristóteles o medo, a inveja, a audácia, a amizade, etc. também são tipos de paixões. Com relação à paixão amorosa, nossa posição é má se a sentimos de modo violento, obsessivo ou de modo muito fraco e tímido; e boa se a sentimos moderadamente; e isso vale para todas as outras paixões. Pois até certa dose de raiva e sofrimento não faz mal a ninguém, aliás, somos humanos.
A paixão equilibrada não torna uma pessoa má ou boa, mas as virtudes e os vícios sim. A pessoa virtuosa escolhe ser boa, assim como a pessoa viciada tem disposição para ser má, mas a pessoa apaixonada não tem escolha. Por isso a pessoa apaixonada não é louvada nem censurada pela simples faculdade de sentir a paixão. É um sentimento natural que se desperta.
Falamos de paixão equilibrada, vamos tentar entender isso melhor nas palavras de Aristóteles. “Meio-termo em relação a nós” quer dizer aquilo que não é nem demasiado nem muito pouco. Ou seja, se dez é demais e dois é pouco, seis é o meio-termo. Esse seis seria uma paixão equilibrada. Mas é importante destacar que esse ponto de equilíbrio ou meio-termo não é igual para todos: cada um alcança o equilíbrio que lhe é próprio dentro de sua história. O meu ponto de moderação pode não ser o seu, mas nem por isso perdemos o equilíbrio.
Quando a paixão ganha poder de raciocínio e cai na realidade pode desaparecer ou virar o AMOR. O tempo que dou para “cair a ficha” pode ser um dia, uma semana, um mês, mas não ultrapassa três anos. E se você quer saber uma boa maneira de diferenciar a paixão do amor repare no comportamento: se some, não procura a pessoa (foi paixão) se sentir falta ou ficar desesperado (é amor ou já esta se transformando).
A perspectiva de vida da paixão é de quatro anos, dificilmente vive até ou mais do que isso. Embora seja mais ativa e romântica do que o próprio amor, não significa que é melhor a este. A paixão é um encanto passageiro, enquanto o amor é algo que se solidifica com o tempo (será!? Veremos em outro ensaio), e nunca mais pode ser quebrado. Já a paixão, não há como se solidificar, eternizar.

Se a paixão é autônoma e passageira, pode nos dar dor ou sofrimento, é sensato viver o momento de paixão com astúcia dosada para não comprometermos nossa felicidade. A paixão bem vivida pode nos levar ao aprimoramento pessoal. Sendo assim, deve-se estar suficientemente treinado para não se deixar levar pelas armadilhas da paixão e ser tragado por ela.
Resta concluir com algo importante: as paixões desenfreadas, em geral, nada possuem de prazeroso, realizador e feliz, mas, na tentativa de sua conversão em realidade concreta, acabam por resultar em frustração, extremo sofrimento, depressão e verdadeira e insana melancolia, daquelas em que o apaixonado se compraz em revirar e atiçar as brasas do próprio sofrimento. Por isso dizemos que o homem ou a mulher feliz não é escravo das suas paixões.


Aquele Abraço!


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Martin Claret: 2003.

Alessandro Arnesy

Autor & Editor

Eix redator do programa 60 minutos. Hoje trabalha no MP e mantem esse blog com publicações periodicas.

0 comentários:

Postar um comentário

Quer comentar? Por favor, comente. Mas ele só terá chances de ser publicado se você...

Não usar siglas, palavras de baixo calão ou gírias impróprias.
Não fazer acusações sem provas.
Não nos ameaçar ou tentar nos intimidar.


Agradeceríamos também se você informasse seu nome, não enviasse comentário como anônimo e também dissesse em qual cidade você mora.

 

Apoio:

  • Copyright © Despolitizado™ is a registered trademark.
    Designed by Templateism. Hosted on Blogger Platform.