1 de out. de 2008

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Pedofilia Midiática


A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Pedofilia é presidida pelo senador Magno Malta (PR-ES) e tem como relator o deputado Geraldo Resende (PMDB-MS), começo seus trabalhos em Abril deste ano, quase vazia e sem mídia, a comissão logo ganhou espaço em meio a uma maré de denuncias e a cobertura insistente da mídia, principalmente a TV Record, que parece não perder sequer uma prisão de pedófilo Brasil afora.
O que o cidadão comum e normal sente quando ouve manchetes como: “Pai abusou da própria filha de cinco anos”, “Mulher obrigava irmão de criação de 3 anos a manter relações sexuais” ou então “Avô que abusava de filha, agora molesta a neta”? Como é que você se sente? Certamente – se você for normal e não um deles – você sente asco, revolta e até certa incredulidade. Afinal como conceber que adultos possam sentir atração sexual por crianças e que alguns pais, mães, padastros, tios e professores, que deveriam apenas orientar, dar amor e carinho e garantir que a criança cresça feliz e saudável, preferem seduzi-las, machuca-las e viola-las, como se fossem seus “bichinhos sexuais”.
Decerto esta perversão sexual só é possível de analise á luz dos conhecimentos médicos adquiridos sobre o funcionamento do cérebro e do ciclo hormonal. De qualquer forma não é o meu objetivo neste artigo falar sobre o que faz alguém “gostar” de crianças, mas sim discutir o trabalho da mídia em conscientizar sobre o problema.
Logo depois que o Caso Isabela (a menina que supostamente foi asfixiada pela madrasta e jogada do sexto andar do edifício London pelo próprio pai, em São Paulo) começou a esfriar, a TV Record precisava de mais um show sensacionalista para garantir a audiência dos seus telejornais e também de seu novo canal: o Record News TV. Então houve a prisão daquele pai de santo que aliciava crianças, ás drogava e as oferecia a pedófilos, em troca, esses o sodomizavam, ou seja, introduziam o pênis em seu ânus e iniciavam o coito retal, perversão sexual na qual o pai de santo era (e ainda deve ser) viciado, enquanto seus parceiros eram (e certamente ainda são) tão viciados em violar crianças que não se importavam com o “inoportuno temporário”. Um desses parceiros era um tenente da Polícia Civil Fernando Neves que foi um dos policiais que atenderam a ocorrência no edifício London. Um dos advogados do casal Nardoni chegou a afirmar que o tenente havia dito para procurarem por um pedófilo que estaria pelas redondezas e poderia ter sido aquele que realmente a agrediu e a jogou pela janela, mas isso não se confirmou e a promotoria e a policia afirmam que é impossível que tenha havido uma terceira pessoa adulta no local do crime.
“Pedofilia, violência contra crianças. Isso deve dar audiência!”, deve ter pensado o diretor de jornalismo da TV Record. O que se seguiu pareceu até uma piada: os jornais da Record chegavam a mostrar até 3 casos de pedofilia em um único dia e o seu principal jornal, o Jornal da Record, exibiu uma série de cinco reportagens especiais sobre o tema durante uma semana.
Um crime, uma perversidade que não existe de hoje e nem é própria apenas do nosso país; de repente é mostrada e discutida amplamente na televisão, sendo que antes pouco se falava no assunto e pouca repercussão se dava aos casos. Isso por um lado é bom: com a divulgação as vítimas passam a tomar coragem para denunciar os abusos que sofrem e as pessoas ficam mais atentas aos sinais. É como se algo só existisse se a televisão diz que existe ou que muitas mães não acreditam em suas filhas a não ser que algum “especialista” diga na TV que se devem levar essas coisas a serio. Por outro lado: cria-se um clima de histeria coletiva, um clima de caça as bruxas onde inocentes podem ser acusados injustamente para depois caírem nas mãos de uma multidão enfurecida que rapidamente praticará um linchamento sem piedade.
Algum draconiano deve dizer que é melhor correr o risco de punir implacavelmente um inocente do que deixar que um culpado escape a lei e siga impune. É bom lembrar que tal pensamento, que pode muito bom ser transformado em comportamento, era típico dos bárbaros medievais e é incompatível com o Estado Democrático de Direito.
E já começam a aparecer casos de tentativas de linchamento de suspeitos de atentado violento ao pudor ou estupro contra crianças e adolescentes. Torço para que episódios como o da Escola Base não se repitam, pois seria a lamentável constatação de que ainda estamos na Idade Média, embora na “Idade Mídia”.

Alessandro Arnesy

Autor & Editor

Eix redator do programa 60 minutos. Hoje trabalha no MP e mantem esse blog com publicações periodicas.

1 comentários:

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