17 de set. de 2008

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PARTE II - Filosofia: A Felicidade como Supremo Bem.

FELICIDADE: O Supremo Bem.
Por Neilton Lima*
*Professor, pedagogo e pós-graduando em psicopedagogia.

[...] o homem feliz vive bem e age bem, visto que definimos a felicidade como uma espécie de boa vida e boa ação. [...], pois a felicidade é a atividade conforme à virtude. [...] essa deve necessariamente agir, e agir bem. [...] as coisas nobres e boas da vida só são conquistadas pelo que agem retamente. [...] A felicidade é, portanto, a melhor, a mais nobre e a mais aprazível coisa do mundo [...].
Aristóteles.


Na sua obra Ética a Nicômaco, o filósofo Aristóteles diz que existe um fim que desejamos por si mesmo para as coisas que fazemos. Isso significa que nem toda coisa que escolhemos visa outra coisa, mas que há uma outra motivação maior por trás de tudo. Tal motivação é o desejo de um supremo bem humano: a felicidade.
No entanto, parece que o filósofo não iria gostar nem um pouco de ver um tema desses abordado por um jovem. Isso porque, para ele, os jovens tendem a agir e perseguir seus objetivos iludidos por suas paixões. Ora, um pouco de contrariedade ao mestre não irá fazer mal (rsrsrs).
Sem dúvidas, o mais alto de todos os bens que se podem alcançar pela ação é a felicidade. Visto assim, a idéia rompe com os mais diversos critérios que estabelecemos para julgar a qualidade de vida de uma pessoa. Às vezes costumamos fazer isso pelo aspecto econômico, o cultural, estético, o do prazer, político, entre outros. Mas esquecemos de analisar pelo paradigma focal: o bem viver e o bem agir equivalem a ser feliz.
Mas, o que é a felicidade? Pronto, agora sim entramos no campo das divergências. Se a pergunta for feita para alguém carente, essa pessoa dirá que é o prazer; se dirigida para alguém doente por sua vez dirá que é a saúde; para um pobre, a riqueza; para um vaidoso, as honras. E por aí se vai multiplicando as opi
niões. Mas todas as respostas resultarão em numerosos bens, por trás dos quais está ela, a felicidade.
Talvez a resposta mais satisfatória para o que seja a felicidade fosse mais bem adquirida se feita para alguém verdadeiramente feliz. Alguém que realmente tivesse ou tenha experimentado plenamente essa felicidade. Arrisca alguma indicação? (rsrsrsr)
Você que lê essas minhas reflexões, não discordará de mim se eu disser que a maioria dos homens e das mulheres identifica a felicidade com o prazer. Há uma tendência muito grande na contemporaneidade de empurrar a todos para uma vida pautada no consumo, no passatempo e na pura diversão. Isto é, o amor a uma vida “agradável”, fundamentada na bebida, na comida e nas orgias (hehehe). O hedonismo do aqui e “só se for agora” (Oba! Oba! Oba!!!).
Mas é redutível demais encolher a felicidade num bem passível de ser perdido. No final da comilança, a azia; da bebida, a enxaqueca; e da orgia a satisfação. Não que sejam ruins, mas pequenas de mais para abranger a grandeza da felicidade. Existem pessoas que até transferem sua felicidade para um carro, uma moto, um celular, uma mansão. E facilmente sofre por ver sua felicidade ser roubada ou ir parar na oficina, quando não desmoronada de um dia para a noite. Infortúnios e sofrimentos vãos: a verdadeira felicidade como supremo bem é algo próprio de uma pessoa e que dificilmente lhe poderia ser tirado.

A verdade é que nessas alturas eu já tenha atingido a insatisfação de muitos. Pois devem ter percebido que a felicidade não vai se resumir a uma vida dedicada a ganhar dinheiro. Uma vida assim, é uma vida forçada e, obviamente, ficou claro que a riqueza não é, ela própria, o bem supremo que no fundo estamos procurando. Trata-se de uma coisa útil, nada mais, e desejada no interesse de outra coisa – sim, a felicidade.
Resumindo tudo o que foi dito, existem bens em dois sentidos: alguns que são bens em si mesmos, e os outros em função dos primeiros, isto é, que são meios. Tudo estará perdido então? Não. Para Aristóteles, a felicidade é um bem atingível e realizável. E quer qual modalidade de bem ela esteja sempre será o bem supremo, absoluto, incondicional, pois é algo desejado em si mesmo e nunca no interesse de outra coisa. O propósito de tudo é a felicidade! (lindo isso, rsrsrsr). Se não acredita, leia as palavras do próprio mestre:

Ora, parece que a felicidade, acima de qualquer outra coisa, é considerada como esse sumo bem. Ela é buscada sempre por si mesma e nunca no interesse de uma outra coisa; enquanto a honra, o prazer, a razão, e todas as demais virtudes, ainda que as escolhamos por sim mesmas (visto que as escolheríamos mesmo que nada delas resultasse), fazemos isso no interesse da felicidade, pensando que por meio dela seremos felizes. Mas a felicidade ninguém a escolhe tendo em vista alguma outra virtude, nem, de uma forma geral, qualquer coisa além dela própria. (ARISTÓTELES, 2004: pp. 25-26).

Nas palavras do filósofo, fica claro que a felicidade é auto-suficiência, isto é, algo que em sim mesmo torna a vida desejável por não ser carente de nada. Assim, a felicidade é algo absoluto e auto-suficiente, e a finalidade da ação.
Visto assim, foi traçado agora um elo entre felicidade e consciência. É preciso ser consciente da própria felicidade para experimentar qualquer pouco dela. Então duas novas coisas são acrescentadas: primeira, a função do homem é uma atividade da alma que implica um princípio racional; segunda, um só dia, ou um curto espaço de tempo, não faz um homem feliz e v
enturoso. É preciso uma vida inteira para se fazer o balanço. Que isso quer dizer? Algo mais ou menos invertido da famosa frase que professamos a alguém que faz aniversário: ao invés de dizer “muitos anos de vida”, devessem desejar uma felicidade verdadeira “muita vida nos anos”. Uma vida original experimentou menos tempo e mais felicidade, ou mais tempo de felicidade.
Vamos então para uma conclusão dessa segunda parte mais profunda, vale dizer, mais filosófica de abordagem da felicidade em Aristóteles. Supremo bem é aquilo que todos desejam. O que os seres humanos desejam é a felicidade. Logo, a felicidade é o supremo bem. Uma vida feliz não é um simples desejar, um ideal platônico. Ela é a concretização de uma natureza. Assim, o
ser humano tem que realizar-se virtuosamente naquilo que lhe é natural, a sua razão. Viver bem é viver de acordo com o bom desenvolvimento do espírito racional. Ou seja, a razão deve dirigir o cotidiano, pois o homem feliz sabe-se e se faz feliz.
Ser feliz é usar a razão com propriedade e fazer de tal modo que isso se torne uma virtude.
REFERÊNCIA:
ARISTÓTELES: Ética a Nicômaco. Martin Claret, 2003
FOTOGRAFIAS: Ilustrações retiradas da página da web: foto sarch.
Aquele Abraço!

Alessandro Arnesy

Autor & Editor

Eix redator do programa 60 minutos. Hoje trabalha no MP e mantem esse blog com publicações periodicas.

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