A paixão pode ultrapassar barreiras sociais, diferenças de formação, idades e gêneros. A paixão completamente correspondida causa grandiosa felicidade e satisfação ao apaixonado, pelo contrário qualquer dificuldade para atingir essa plenitude pode trazer grande tristeza, pois o apaixonado só se vê feliz ao conseguir o objeto de sua paixão (Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.)
Por Neilton Lima*
*Professor, pedagogo e pós-graduando em psicopedagogia.
Imagine alguém que acaba de se apaixonar. É possível que essa pessoa passe a viver um momento de extrema felicidade. Pelo menos se essa paixão for equilibrada, correspondida ou enquanto ela durar. Como a paixão é passageira, ela não significa necessariamente felicidade segura e permanente no amor. A paixão tem dois vieses: é acompanhada de prazer ou de sofrimento.
Aristóteles entende a paixão como um elemento intrínseco ao ser humano que não deve ser nem extirpado nem condenado, mas dominado e nunca reprimido. O homem não escolhe suas paixões, por isso não é responsável por elas, mas sim pela influência delas nas suas ações. Assim, o homem virtuoso é, nesta perspectiva, aquele que aprimora a sua conduta para saber utilizar, nos seus atos, a medida exata de paixão. Ou seja, a paixão dá estilo e unidade às nossas condutas e comportamentos, então nem pensar na justificativa de ações desequilibradas como arranhar a moto do namorado ou bater na cara da namorada porque “sinto por você uma forte paixão”. A paixão não é algo que nos leva a praticar uma ação ruim malgrado nossa vontade: um "crime passional". Todo adulto normal deve ser responsável por suas paixões e arcar com as conseqüências de seu mau.
O mestre diz que a paixão deve estar a serviço do logos, do conhecimento, da razão. O homem virtuoso é, então, aquele que age em harmonia com suas paixões; que alcança o equilíbrio logos/paixão. Em suma: Aristóteles compreende a paixão como "uma tendência implantada na natureza humana, mas eminentemente suscetível a ser educada”.
O tipo de paixão que estamos falando é a que se relaciona com o sentimento ou desejo amoroso. É um sentimento de desejar, querer, a todo custo o calor do corpo de outro ser. Fiz essa ressalva porque para Aristóteles o medo, a inveja, a audácia, a amizade, etc. também são tipos de paixões. Com relação à paixão amorosa, nossa posição é má se a sentimos de modo violento, obsessivo ou de modo muito fraco e tímido; e boa se a sentimos moderadamente; e isso vale para todas as outras paixões. Pois até certa dose de raiva e sofrimento não faz mal a ninguém, aliás, somos humanos.
A paixão equilibrada não torna uma pessoa má ou boa, mas as virtudes e os vícios sim. A pessoa virtuosa escolhe ser boa, assim como a pessoa viciada tem disposição para ser má, mas a pessoa apaixonada não tem escolha. Por isso a pessoa apaixonada não é louvada nem censurada pela simples faculdade de sentir a paixão. É um sentimento natural que se desperta.
Falamos de paixão equilibrada, vamos tentar entender isso melhor nas palavras de Aristóteles. “Meio-termo em relação a nós” quer dizer aquilo que não é nem demasiado nem muito pouco. Ou seja, se dez é demais e dois é pouco, seis é o meio-termo. Esse seis seria uma paixão equilibrada. Mas é importante destacar que esse ponto de equilíbrio ou meio-termo não é igual para todos: cada um alcança o equilíbrio que lhe é próprio dentro de sua história. O meu ponto de moderação pode não ser o seu, mas nem por isso perdemos o equilíbrio.
Quando a paixão ganha poder de raciocínio e cai na realidade pode desaparecer ou virar o AMOR. O tempo que dou para “cair a ficha” pode ser um dia, uma semana, um mês, mas não ultrapassa três anos. E se você quer saber uma boa maneira de diferenciar a paixão do amor repare no comportamento: se some, não procura a pessoa (foi paixão) se sentir falta ou ficar desesperado (é amor ou já esta se transformando).
A perspectiva de vida da paixão é de quatro anos, dificilmente vive até ou mais do que isso. Embora seja mais ativa e romântica do que o próprio amor, não significa que é melhor a este. A paixão é um encanto passageiro, enquanto o amor é algo que se solidifica com o tempo (será!? Veremos em outro ensaio), e nunca mais pode ser quebrado. Já a paixão, não há como se solidificar, eternizar.
Se a paixão é autônoma e passageira, pode nos dar dor ou sofrimento, é sensato viver o momento de paixão com astúcia dosada para não comprometermos nossa felicidade. A paixão bem vivida pode nos levar ao aprimoramento pessoal. Sendo assim, deve-se estar suficientemente treinado para não se deixar levar pelas armadilhas da paixão e ser tragado por ela.
Resta concluir com algo importante: as paixões desenfreadas, em geral, nada possuem de prazeroso, realizador e feliz, mas, na tentativa de sua conversão em realidade concreta, acabam por resultar em frustração, extremo sofrimento, depressão e verdadeira e insana melancolia, daquelas em que o apaixonado se compraz em revirar e atiçar as brasas do próprio sofrimento. Por isso dizemos que o homem ou a mulher feliz não é escravo das suas paixões.
Aquele Abraço!
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Martin Claret: 2003.